Sábado, 25 de Agosto de 2007
Tenho a certeza que, nestes últimos 5 dias, consumi menos calorias do que aquelas que gastei, por isso só posso ter perdido peso. Estou ansiosa por me pesar em jejum e confirmar isso amanhã de manhã!
Gostava tanto de emagrecer 6 Kg este Inverno e voltar ao peso mínimo… Para isso tenho de ser mais exigente e restritiva.
Acho que, por agora, vou começar por fazer um pacto comigo e garantir, aqui, que não vou comer nada depois das 21:30, independentemente das horas a que me deitar e estou a pensar em passar a cozinhar só para mim. Tenho medo que a minha mãe ouse a pôr uma mísera batata ou um pingo de azeite na sopa para me engordar.
Sinto-me: Empenhada
Vim hoje de férias com os meus padrinhos e o meu primo. Passei uma boa semana. Só dispensava os reparos sistemáticos ao meu prato, as reprimendas, os rebaixamentos e a censura acerca de tudo o que eu fazia! Fora isso foram uns dias bem passados: passeei, nadei, joguei, não vomitei, e consegui controlar-me lindamente às refeições (só espere que continue assim e que com isso tenha perdido peso! Estou desejosa de me pesar). Mas quando cheguei a casa qual foi o comentário do meu pai quando me viu?
- “Tens uma cara mesmo horrível!”
Fantástico! Era mesmo disso que eu precisava… Durante o tempo todo fui bombardeada pelos meus padrinhos com comentários do tipo “não a apertes tanto que ela desmancha-se!” ou “porque é que não levas a saia para mostrares esses alfinetes (=pernas)?” e para o meu primo “anda come filho, tira mais presunto e bebe mais leite, não queiras ficar como a tua prima!” ou “Humm tão bom! Não sabes o que é bom. Tu é que perdes…”.
Foi incrível! Não sei como superei tão bem este sarcasmo. Não sei como aguentei sem recalcitrar uma única vez. Mas com os meus pais é diferente. Não aguento os comentários de menosprezo feitos por eles e respondo-lhes. Andam cada vez pior. O ambiente anda saturado de ansiedade e desconfiança - sempre que vou à casa de banho pensam automaticamente que é para vomitar, se comer um gelado é porque a seguir vou vomitar, quando estou na quinta e lhes peço para me virem levar a casa é porque quero ficar sozinha para devorar a comida e passar o tempo na casa de banho... Ando farta deles, de mim e de tudo!
Fui a semana passada à consulta, a próxima é só no final de Setembro. Confirmei aquilo que sempre neguei: também tenho problemas de comportamento obsessivo - compulsivo!
4% da população sofre deste problema mas nos doentes com Anorexia Nervosa, pelos vistos, a percentagem é muito maior. Depois de pesquisar sobre esta alteração de personalidade compreendi de que maneira isto afecta o meu dia-a-dia. Não tinha consciência de como isto domina a minha vida, é impressionante…
Deixa-me triste saber que sou assim.
Deixo aqui um excerto de uma pequena pesquisa que fiz:
Personalidade obsessivo-compulsiva
"As pessoas com personalidade obsessivo-compulsivo são formais, fiáveis, ordenadas e metódicas, mas muitas vezes não se podem adaptar às mudanças. São cautelosas e analisam todos os aspectos de um problema, o que dificulta a tomada de decisões. Embora estes sinais estejam em consonância com os padrões culturais do Ocidente, os indivíduos com uma personalidade obsessivo-compulsiva assumem as suas responsabilidades com tanta seriedade que não toleram os erros e prestam tanta atenção aos pormenores que não conseguem chegar a completar as suas tarefas. Consequentemente, estas pessoas podem entreter-se nos meios para realizar uma tarefa e esquecer o seu objectivo. As suas responsabilidades criam-lhes ansiedade e raramente encontram satisfação com os seus êxitos.
Estas pessoas são frequentemente grandes personalidades, especialmente nas ciências e noutros campos intelectuais onde a ordem e a atenção aos pormenores são fundamentais. No entanto, podem sentir-se desligadas dos seus sentimentos e incomodadas com as suas relações ou outras situações que não controlam, com acontecimentos imprevisíveis ou quando devem confiar nos outros."
Isto descreve-me na totalidade.
Impressionou-me ver a minha personalidade, que é exclusivo a qualquer indivíduo, descrita como sendo anormal ou tendo algo de errado.
Sinto-me:
Quinta-feira, 9 de Agosto de 2007
A única coisa que consegui foi passar a noite nas urgências. É claro que não disse que estava com uma intoxicação. Todos ficaram a pensar que foi por não ter comido. Foi melhor assim... Se os meus pais estão muito piores comigo por saberem isso, imagino se soubessem que tinha feito o mesmo pela terceira vez.
Andam insuportáveis, só sabem mandar-me comer e ameaçam-me se for vomitar. Nem eles conseguem estar ao pé de mim, nem eu deles. Mas não os censuro, eu compreendo o lado deles. Aqui o problema sou eu.